Got to write a classic
Got to write it in an attic
Adrian Gurvitz, Classic
Fazer um espectáculo conservador, fazer-nos clássicos, dar à luz um monstro, impor uma identidade, construir uma estufa onde isto se guarda e se mostra, paredes fechadas, sala climatizada sem perigo de contágio, coisa só nossa, plantas para os outros verem. Um interior absoluto, confortável, conservador e devidamente decorado, suficientemente grande para cabermos todos. Ou quase. Mas e depois? O que acontece quando transborda? Ficas ou vais? Pertences ou não pertences? O teu palácio é igual ao meu?
O ponto de partida para este espectáculo surge de um texto de Peter Sloterdijk que aborda a alegoria “cavernosa” da estufa: “conservatory”, em inglês, é também sinónimo de estufa, um lugar onde conservamos qualquer coisa que desejamos preservar.
Se o “conservatório” é um lugar onde objectos e seres vivos se podem conservar e sobreviver, distantes de todas as alterações e mudanças (excepto da velhice e dos seus resultados naturais), o nosso Conservatório é um lugar onde textos e actores se podem conservar e sobreviver, distantes de todas as alterações e mudanças (excepto da velhice e dos seus resultados naturais).
Se um “conservatório” pode tornar-se uma organização evoluída, sob a forma de um estabelecimento público ou privado, destinado a salvaguardar e a promover o ensinamento de valores culturais como a música, a dança, o teatro, ou de outros saberes como as técnicas de certos métiers, o nosso Conservatório tenta ser uma organização que se deixa evoluir, sob a forma de um espaço semi-público/semi-privado, destinado a salvaguardar e a promover os ensinamentos do Teatro.
O termo conservatório é maioritariamente usado para designar um fenómeno artificial de protecção, mas é igualmente aplicado para designar um contexto natural, espontâneo, que consegue preencher sem intervenção antrópica, uma função de preservação – tome-se em consideração este exemplo: o isolamento de uma ilha durante a deriva dos continentes pode criar um “conservatório” natural de espécies vivas. Assim sendo, Conservatório é um espectáculo, resultado natural da deriva do teatro, que tenta criar um conservatório natural de espécies.
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Um espectáculo Teatro Praga
Com | André e. Teodósio, Cláudia Jardim, Joana Barrios, Patrícia da Silva, Pedro Penim e Simão Cayatte
Desenho de luz | Daniel Worm d’Assumpção
Produção | Joana Gusmão e Pedro Pires
Co-produção | Festival Alkantara
Apoio | Espaço do Tempo, DEVIR
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Duração | 90min
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