Uma encomenda do São Luiz Teatro Municipal.
Este espectáculo apareceu por convite do São Luiz Teatro Municipal. Falou o Teatro da Índia, falou a Praga de um musical. E acertaram-se os interesses. É um musical “de inspiração indiana”, mas onde a Índia ficou já não sabemos. Talvez na mitologia genesíaca que nos foi confundindo (sogra de um e mulher de outro, casada com tios e filha de sobrinhos), na multiplicação de braços de uma deusa, na diferenciação de classes, na dimensão da democracia (parece que a maior patenteada), no excesso e na suposta loucura da sobrepovoação. A Índia acha-se na forma do espectáculo e não registada, como num retrato ou documentário. Não estivemos “lá”. Não. Não falámos com “eles”. Não.
Este espectáculo apareceu por convite do São Luiz Teatro Municipal. Falou o Teatro da Índia, falou a Praga de um musical. E acertaram-se os interesses. É um musical “de inspiração indiana”, mas onde a Índia ficou já não sabemos. Talvez na mitologia genesíaca que nos foi confundindo (sogra de um e mulher de outro, casada com tios e filha de sobrinhos), na multiplicação de braços de uma deusa, na diferenciação de classes, na dimensão da democracia (parece que a maior patenteada), no excesso e na suposta loucura da sobrepovoação. A Índia acha-se na forma do espectáculo e não registada, como num retrato ou documentário. Não estivemos lá. Não. Não falámos com “eles”. Não.
A Índia serviu para ler a Europa. O “outro” para nos vermos a nós próprios, método antigo, lugar comum que empurrou muita viagem. Lemos Moravia e Pasolini e não Tagore, vimos Fritz Lang e não Ray. Treslemos a Índia, ouvimos com interferência, muito parcialmente, sem antropologias nem história, fomos à procura do que queríamos para fazer um musical.
Chamamos-lhe “de inspiração indiana”, mas onde a Índia ficou já não sabemos.
Demo tem uma narrativa. É uma história de amor. Não a contamos muito bem, porque já lá vai o tempo em que isso se fazia. E depois porque também não é possível contar bem quando não se sabe muito bem o que se está a contar. Conseguimos, felizmente, confundir. Misturamos a Estónia com a Islândia, a Bulgária com Espanha, o inglês com o alemão e achamo-nos a ler ciclos, aqueles eternos que se repetem: solução, falhanço, solução, falhanço.
Mas há uma protagonista. Baptizámo-la de Savitri. Vem das águas onde moram os crocodilos. E propõe, desculpem, impõe uma ordem. Talvez tudo não passe de uma vontade política, de um sonho megalómano e demoníaco. Ou de uma viagem: “No Céu temos as nossas Índias, chegar ali é salvar-se, que naveguemos todos é preciso.” (Padre Manuel Bernardes, Os últimos dias do homem.)
Construímos o espectáculo a partir de fragmentos e completamo-lo com a música dos americanos Kevin Blechdom e Christopher Fleeger, e do estónio Andres Lõo. Embrulhámos questões filosóficas, éticas, sociais e culturais em chansons-papel-de-rebuçado. O rebuçado é para todos: colorido e agradável ao paladar, mas duro de trincar e letal para a dentição. É democrático, demente e demolidor.
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Um espectáculo Teatro Praga com música original de Kevin Blechdom, Christopher Fleeger e Andres Lõo
Com | André e. Teodósio, André Godinho, Andres Lõo, Carlos António, Christopher Fleeger, Cláudia Jardim, Joana Barrios, Joana Manuel, Kevin Blechdom, Luís Madureira, Miguel Bonneville, Patrícia da Silva, Pedro Penim e Rita Só
Participação especial | Rão Kyao
E a colaboração de Vasco Araújo
Crocodilos | André Campino, Diogo Bento e mulher bala
Desenho de luz e Direcção técnica | Daniel Worm d’Assumpção
Vídeo | André Godinho
Apoio vocal | Luís Madureira
Apoio coreográfico | João Galante
Figurino Nora Nova | Fernanda Pereira
Figurino Ilse Koch | João Figueira Nogueira
Execução de figurinos | Mestra costureira Teresa Louro e Rosário Balbi
Execução da cabeça de Tim O’ Leary | Jorge Bragada
Fotografia | Susana Pomba
Produção | Cristina Correia, Joana Gusmão e Pedro Pires
Co-produção | São Luiz Teatro Municipal
Apoio | O Espaço do Tempo, DEVIR, O Rumo do Fumo, Goethe-Institut Portugal
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Duração | 1h40
M/12
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