Uma encomenda do São Luiz Teatro Municipal no âmbito do ciclo “Outras Lisboas”.
Servindo o ciclo “Outras Lisboas” do Teatro São Luiz para uma reflexão sobre a imigração em Lisboa, e tendo sido atribuído ao Teatro Praga a especificidade dos imigrantes do Leste, Turbo-Folk (título derivado do conceito musical sérvio inventado por Rambo Amadeus que denomina um estilo de música tradicional com um “up-rooting pop”) surge como espectáculo comunitário inevitável que, na senda dos Persas de Ésquilo, (des)congela as relações Leste e Far Oeste i.e. aquelas velhas questões, outrora conscientemente desvalorizadas, regressam com toda a força do Zeitgeist. Com os dados do “outro lado”.
CRIME A RIVER
“(…) que disse querer simplesmente elogiar Carlos Fino pelo facto de, nas suas reportagens de Guerra, transparecer sempre um extraordinário respeito e compreensão pela cultura que está do “outro lado”. Lembrei-me logo que talvez a tragédia “Persas” de Ésquilo fosse do agrado de Carlos Fino (arrisco esta opinião sem o conhecer).”
Frederico Lourenço
O espectáculo Turbo-Folk é a terceira parte de uma trilogia épica sobre o “Poder Estético”*, iniciada com o espectáculo Discotheater* [Festival Alkantara] a que se seguiu O Avarento ou A última festa [T.N.S.J.]. **
Turbo-Folk comete um atentado: uma redefinição política através da estética. Tal como a imigração é um problema sério a resolver a nível político, ela é também uma boa metáfora para muitas outras questões inerentes ao acto de comunicação e de partilha em comunidade, os desejos e problemas no relacionamento dos seres humanos uns com os outros. O governarmo-nos.
Não basta apontar o dedo a políticas, não basta embelezar a condição de imigração atribuindo-a como categoria comum a todos os indivíduos, não basta sair à rua imolado, não basta dizer que o problema habita “o outro”, pois o ser humano está sempre a um passo de cair no abismo, no tal tapete persa esquiliano.
Assim sendo, Turbo-Folk é uma revolução dos sem parte, entre um percussionista estónio semi-perdido e um show a solo de uma cantora lírica ucraniana.
Turbo-Folk é uma festa de imigrantes.
Em Turbo-Folk é a performatividade que conta, não o objecto (já agora, a troika performativa é: Jean-Luc Godard, Rambo Amadeus e Slavoj Žižek).
Em Turbo-Folk um “homo faber aestheticus” anda contente à deriva num qualquer rio sangrento.
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Um espectáculo Teatro Praga
Com | Ana Só, André e. Teodósio, Andres Lõo, Cláudia Jardim, Diogo Bento, Inês Vaz, Patrícia da Silva e Pedro Penim
Cantoras | Larissa Savchenko e Luiza Dedicin
Colaboração | André Godinho, Catarina Campino, Javier Núñez Gasco, José Maria Vieira Mendes, Rogério Nuno Costa e Vasco Araújo
3 dentes de ouro vestidos por | Mariana Sá Nogueira
Design de luz | Daniel Worm d’Assumpção
Apoio à cenografia | João Gonçalves
Produção | Joana Gusmão e Pedro Pires
Co-Produção | São Luiz Teatro Municipal
Fotografia | José Frade
Fotografia promocional | Steve Stoer
Grafitter | Rodrigo Craveiro
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Length | 90min
M/12
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