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2004

Hospital Miguel Bombarda | Lisboa [Portugal]

2004 | TÍTULO

Título faculta uma escolha ao público: o de pagar ou não pagar. A escolha é decisiva para a definição do papel de cada um no espectáculo: cada lugar escolhido, cada ângulo de visão, cada movimento accionado e cada palavra proferida estão sujeitas a um carimbo taxativo de verdadeiro ou falso. Ficção e documento situam-se, aqui, na mesma dimensão.

O espectáculo chamado Título é uma sucessão de “peças falsas” que não pretendem “retratar”, e que inevitavelmente se perderão ao tentar procurar significado em objectos que duvidam de si mesmos. Dúvidas que chegam da garantia que substituir velhos deuses por falsos novos deuses como explica Arno Gruen*, significa uma libertação de “submissões antigas” por “autoridades novas”.

Título pretende dar provas inequívocas da verdade num terreno minado de mentiras. Pretende ao mesmo tempo rotular projectos impregnados de veracidade de artigos tão falsos como os jarros Ming das lojas dos 300.

Pisar estas minas anti-pessoais é tão excitante quanto inoportuno ou vão.

É de crer que este espectáculo chamado Título, tal como estas tautologias e contradições, é puramente formal, desprovido de sentido e que nada nos diz sobre o mundo. Mas é também de considerar a sua condição de espectáculo essencial, tal como as tautologias o são no domínio da lógica, enunciando as leis sem as quais o pensamento e o discurso seriam incoerentes.

Se as proposições tautológicas do género: “O meu nome é nome” são necessariamente verdadeiras a priori e se o contrário (uma contradição) é uma preposição lógica necessariamente falsa, quando aplicadas à convenção tridimensional do teatro todas elas se baralham e se confrontam com este espaço da falsidade por excelência que, em regra, se situa nos antípodas da percepção e do entendimento hiper-realista do cinema.

 

*Falsos Deuses, Arno Gruen, Paz Editora de Multimédia Lda., Lisboa 1997, tradução de Lumir Nahodil.

 

 

Co-criação e interpretação | Carlos Alves, Catarina Campino, Cláudia Jardim, Javier Núñez Gasco, Patrícia da Silva e Pedro Penim
Produção e promoção | Pedro Pires
Fotografias | Sofia Ferrão e Hélio Mateus
Apoio | O Espaço do Tempo

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